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Votando com a carteira

BRUNO VARELLA MIRANDA

EM 04/10/2022

3 MIN DE LEITURA

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É cada vez mais comum escutarmos a opinião de que a política não nos ajudará a resolver nenhum de nossos desafios. Argumenta-se que será o mercado – entendido aqui como um mecanismo descentralizado de alocação de recursos – a viabilizar tais soluções. 

Dentro dessa lógica, a expressão “vote com a sua carteira” sugere que consumidores podem influenciar as práticas de empresas. A lógica é simples: se você se preocupa com o meio ambiente ou com a desigualdade, pode comprar produtos de empresas com políticas sustentáveis ou de responsabilidade social. 

Nesse sentido, “votar com a carteira” implica uma relação de delegação. Um exemplo nos permite ilustrar o argumento. Suponha que você acredite que a comercialização de produtos orgânicos seja um passo fundamental para um mundo sustentável. Para a maioria esmagadora dos consumidores, seria inviável ter a própria horta orgânica. Assim, ao comprar algo produzido segundo os princípios da agricultura orgânica, você delegaria a tarefa de preservar o meio ambiente a outros.  

Um aspecto interessante do “voto com a carteira” diz respeito à natureza da decisão. Ao votar em uma eleição política, o cidadão escolhe uma promessa de política. Em outras palavras, o voto significa – ou deveria significar – a concordância com um conjunto de políticas a ser implementado no futuro. Evidentemente, experiências passadas contam. Entretanto, o interesse naquilo que será feito é um motor imprescindível para a ação política. Já o consumidor que “vota com a carteira” está adquirindo um produto ou serviço supondo que determinada ação foi implementada no passado. Por exemplo, compra algo porque concorda com os métodos de produção empregados.    

Ocorre que tal delegação é feita geralmente a um complexo nexo de contratos entre empresas. De fato, a relação entre produtores e consumidores é marcada pela assimetria informacional. Conhecer os detalhes de qualquer processo produtivo seria impossível para qualquer consumidor – que, afinal, não possuem tempo e dinheiro para coletar os dados necessários para tal análise. A confiança é então um elemento fundamental para quem “vota com a carteira”. 

A história se complica quando percebemos que é possível que um comprador e um vendedor possuam percepções distintas sobre a natureza da tarefa. Por exemplo, consumidores e empresas podem discordar sobre as implicações da busca por políticas de responsabilidade social. Apenas para ficar na questão mais óbvia, faz sentido pensar em uma redistribuição explícita dos ganhos na cadeia de valor? O consumidor de um produto Fairtrade diria que sim. Mas nem todas as empresas que dizem apoiar o estabelecimento de condições de “comércio justo” adotam práticas transparentes de remuneração. 

Grupos de consumidores também podem discordar, transmitindo sinais contraditórios ao mercado. Mesmo termos populares, como “sustentabilidade ambiental”, podem assumir significados heterogêneos de acordo com as preferências pessoais. Para complicar ainda mais, a concretização de objetivos complexos pode depender de altos níveis de adesão a uma agenda específica. Por mais que um consumidor “vote” de forma consistente em produtos cuja manufatura não gera emissões de carbono, a materialização de sua preferência dependerá de decisões semelhantes por parte de milhões de outras pessoas.    

Não por acaso, a assimetria informacional cria um cenário em que o “agente” – ou seja, o responsável por executar a tarefa – possui considerável autonomia para decidir como e se a fará. “Votar com a carteira”, assim, não garante que um determinado objetivo será atingido. Pelo contrário, fenômenos como o chamado greenwashing nos mostram o quanto tal tarefa de delegação pode ser complicada. Quanto mais complexo o objetivo ambiental ou social, maior a dificuldade de avaliar o real impacto da ação de uma organização. 

Em resumo, acreditar que consumidores empoderados mudarão o mundo com suas carteiras implica menosprezar o enorme peso dos custos de obtenção de informação no mundo real. Decisões de consumo conscientes podem até ajudar, desde que complementadas por políticas públicas coerentes. Nem sempre, porém, os “votos” com a carteira e com a urna são coerentes. Mas essa é outra história. 

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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